quarta-feira, 21 de setembro de 2011


''Oi saudade. – Disse eu talvez esperando respostas, vai saber se existe mesmo essas coisas aí para comunicarmos com pessoas de ‘outros mundos’... Mas se você conseguir ler, presta bem atenção... Está difícil pai! Faz tantos anos e as coisas nunca se ajeitam, entende? Eu ainda me perco volta e meia sem você, tem horas que o teto, depois o chão, todos eles desabam  e parece também que estou num labirinto daqueles bem tenebrosos... está prestando atenção? Você nunca prestava atenção no que eu falava, tenta agora, eu cresci, olha! Sei lá se a falta é mesmo de você ou é falta de ter quem chamar de pai, é tão bonitinho quando vejo alguma cena de filha-e-pai e imagino a gente, imagino... Ninguém consegue enxergar mesmo a falta que eu sinto, a dor que me consome e me dilacera aqui por dentro, não sei se é também o fato de muita coisa não ter sido dita, das coisas terem mudado muito depressa, se não é o fato de você ter ido muito depressa, eu não sei explicar ou expressar o que eu sinto em relação a essa perda. Pô pai! Ficasse pelo menos mais um tempo, eu ia adorar ficar brava com você sentindo ciúmes de mim, dos garotos, das minhas roupas, eu ia adorar ficar em casa chorando numa sexta-feira por ter sido proibida por você de ir naquela balada com as minhas amigas, é sério! Elas vão até brigar comigo por falar isso, mas é que elas tem um pai, pai! E só quem perdeu, como eu perdi o senhor, sabe do que eu to falando. Não que eu tenha te dado valor depois que te perdi, não é isso... mas a gente precisava acertar muita coisa e eu era menina demais, eu juro que você sentiria orgulho de mim se conhecesse quem eu me tornei depois que tirei as vestes de menininha pai, se não se orgulhasse eu faria o mesmo acontecer! É estranho quando tenho esses tipos de recaídas em relação a você e me desmancho a chorar, mais estranho ainda é minhas amigas tentando me consolar, mas não é um garoto que eu esquecerei daqui um ou dois meses, pai.. é você. E isso nem a mamãe trará de volta, sabe, é uma dor forte mesmo, eu finjo que aceito mas é horrível o fato de não te ter aqui, tem tanta coisa além dessa bobeiraiagem toda que eu escrevi, que eu queria te dizer, te mostrar, e queria um abraço e um colo depois também. Agora eu preciso ir pai, minhas preocupações não se resultam mais em apenas ‘saber aonde deixei a boneca jogada dessa vez’, eu te amo, espero que tenha lido tudo com atenção e que esteja se cuidando por ai. Beijo de sua menina. ''

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